segunda-feira, 9 de julho de 2007

Documento entregue hoje na AR: AEC's

Actividades de Enriquecimento Curricular

O que são estas actividades para as crianças, para o seu desenvolvimento – em termos de aprendizagem de vida –, que tempo elas preenchem?


Que respostas sociais?


Como é o seu funcionamento?


Que condições têm os seus animadores?


O que se exige aos professores?

A escola de que precisamos é aquela que permita a todas as crianças adquirir conhecimento – num contexto em que elas deverão desenvolver todas as suas capacidades, deverão socializar-se (adquirindo laços de grupo e, ao mesmo tempo, adquirir confiança em si próprias e nos outros).

Um processo escolar com todas estas componentes, deverá permitir que elas aprendam a saber viver num quadro de regras de humanidade, de sentido de justiça, de respeito por si e pelos outros, numa palavra, a adquirir educação.


Toda esta obra é possível a partir do empenhamento de equipas pedagógicas multidisciplinares, mas equipas nas quais cada um terá o seu papel imprescindível, cada um deverá ser respeitado e tratado com equidade.


O que estado a acontecer no primeiro ciclo – com o novo tratamento dado aos professores, aos animadores, e com as actividades destes? Que consequências tem isso tido para as crianças?


Dois em um: Resposta social e enriquecimento curricular


Uma coisa é a resposta social que o Estado tem obrigação de assegurar às famílias, com horários de trabalho incompatíveis com os horários pós e antes da actividade lectiva dos seus filhos. Outra coisa são as vivências que devem ser proporcionadas a todas as crianças, ao longo do seu dia-a-dia, para que elas sejam de facto gente em construção.

Os ritmos, o tipo de actividades e a forma de se realizarem não poderá ser a mesma para todas as crianças, para conseguirmos um bom sucesso escolar e educativo.

O que vai ser de um acriança que entra às oito horas da manhã na escola e é acolhida num ATL com propostas de trabalho ou mesmo jogos orientados, sempre subordinados a regras.

Passa o tempo lectivo, das nove às doze, a trabalhar – num quadro de actividade organizada – com o professor.

Tem o serviço de refeição, num quadro com regras.

Retoma o tempo lectivo, num trabalho de novo organizado pelo professor.

E, quase sem um hiato, nos mesmos espaços entra em actividades de “enriquecimento curricular” num quadro de obrigações, de que se destaca a sala de estudo.


Onde fica o tempo de fruição, de brincadeira livre, de relaxamento?

Onde fica o tempo do direito ao disparate e à autonomia?

Onde fica o espaço para adquirir a capacidade de tomar decisões?


Queremos formar robots telecomandados?


Será que poderemos ficar admirados com os comportamentos das crianças, nas salas de aula e durante as actividades de complemento curricular? Comportamentos onde chegam a ir mesas e cadeiras pelo ar, os computadores são danificados e tudo o mais de que cada um de nós tem experiência?


Não é então justa a afirmação de colegas chamando estas actividades de “empobrecimento curricular”?


Não deveria então haver uma quebra real – para actividade livre – após o horário lectivo?

A vida dos animadores responsáveis pelas actividades de enriquecimento curricular

Seria suposto que estas actividades não eram a música, a expressão plástica e a educação física – disciplinas constituintes do currículo nacional.

Precisamos, de facto, de professores nestas áreas para integrarem as equipas da escolas, para as assegurarem – coadjuvando o professor titular de turma .

Por decisão ministerial elas passaram a ter um estatuto de “enriquecimento” e de carácter facultativo.

Aqueles que as asseguram tanto podem ser professores bem preparados, como podem ser pessoas de outra área, sem preencher os requisitos, quer no conhecimento da disciplina (agora actividade) que vão ministrar, quer na preparação pedagógica para saberem organizar o trabalho de uma turma.


Todos têm em comum a precariedade, a flexibilidade e a avaliação injusta:

São contratados à hora, por preços que chegam a ser inferiores a cinco euros.

Nesse tempo não cabem as horas necessárias para integrarem a equipa pedagógica da escola onde estão a trabalhar, nem as reuniões com os professores titulares de cada turma de crianças com quem desenvolvem a actividade, de forma a integrarem as suas propostas ou planos de aula no projecto curricular da respectiva turma.

Alguns são professores sujeitos a horários de manhã e ao fim da tarde, longe de casa. Só aceitam estas condições porque não querem desistir de ensinar e porque temem as consequências de serem preteridos num próximo concurso, caso não tenham trabalhado no ensino.

Outros aceitam trabalhar por necessidade de sobrevivência, mas sem qualificação para aquela actividade.

Quantos destes docentes há a dar educação musical, sem nunca terem formação na mesma, a pedirem ajuda ao professor titular da turma ou nem sequer o fazendo com receio de um avaliação negativa?

Como são os professores da disciplina de inglês? Chega a haver pilotos a trabalhar nesta disciplina!

Os resultados


Nestas condições – e no período pós lectivo em que as crianças querem e com razão brincar livremente – o que se pode esperar destas aulas?


Não serão desumanas as críticas que lhes são feitas, sobretudo pelos encarregados de educação, comparando o comportamento dos seus educandos nesse período de tempo com o comportamento no tempo lectivo?


O que se pede que façam os professores “avaliadores” e “supervisores”?


Pede-se-lhes que sejam supervisores destas actividades e que avaliem.

Para isso, têm um tempo estipulado, podendo variar de agrupamento para agrupamento. No caso do Agrupamento Conde de Oeiras é de meia hora semanal, a acrescentar às 26 horas e 30m lectivas, mais as horas de reunião e de formação.

Somando tudo, pouco sobra para o trabalho de organização, de planeamento das actividades da sua turma, de correcção dos trabalhos dos seus alunos e muito menos para os projectos de escola.


Como exigir a estes docentes que façam mais do que a meia hora de supervisão?

É legítimo que não passem desse cumprimento. As consequências podem ser vistas no dia seguinte As queixas da desorganização dos seus alunos, da desarrumação quando não destruição de materiais da sua sala de aula.


Como exigir a estes docentes que dêem uma avaliação negativa aos chamados animadores – muitos com mais ou com tantas habilitações como eles – quando as condições de trabalho são desiguais e as regras do jogo estão viciadas?


Outros docentes há que – não tendo coragem para ver os alunos a desorientarem-se – se organizam para ficar ainda mais tempo na escola, ora ajudando este animador, ora substituindo-o mesmo, quando ele falta.


Estes são os professores que se esquecem de si próprios, que sacrificam a sua vida pessoal e familiar porque desejam acima de tudo o bom funcionamento da escola, para o sucesso de todas as crianças.

Mas quem pode fazer isto?

Com que direito se poderia exigir uma vida de missionário a um docente?


Por isso, há colegas que – ao contabilizarem o seu horário de trabalho – concluíram que trabalharam sessenta horas semanais!

Sessenta horas semanais não podem ser exigidas a um docente para que a escola seja escola.

Além de que eles poderão ser responsáveis pela criação de um mau ambiente entre colegas, receosos , o que é legítimo, de lhes vir a ser exigido igual comportamento, ou serem considerados menos profissionais , por não assumirem tais tarefas.


Conclusão


Haverá docentes que farão o trabalho que lhes é exigido, cumprindo o horário estipulado. Estão de facto mais tempo na escola, mas isso não significa que os resultados sejam positivos, pois esse tempo não foi de modo algum suficiente para suprir lacunas de que não são responsáveis. Ficaram, entretanto, muito penalizados porque terão que inevitavelmente levar trabalho para casa.


Estarão contrariados e insatisfeitos, pois perderam a margem de liberdade imprescindível para um bom desempenho.

Haverá os docentes que se “desdobraram” e se esgotaram.

Sentem-se insatisfeitos e revoltados, porque mesmo vendo resultados positivos, têm consciência de que estão a dar o que não devem, e não aceitam a injustiça à sua volta.

É por isso legítima a afirmação de duas professoras – uma do Agrupamento João Gonçalves Zarco e outra do Agrupamento Conde de Oeiras, respectivamente:

Reconheço agora quanto foi o meu empenhamento e realização

Tenho trinta anos de serviço, ao longo dos quais procurei dar aos meus alunos o melhor de mim mesma.

Nunca regateei horas de trabalho para a escola. Estou a pensar, por exemplo, na Escola de Carnaxide. Projectos nos quais despendíamos serões até altas horas e fins-de-semana, muitas vezes em articulação com os pais.

Não havia pais contra nós, professores. Se agora há pais contra os professores… devemo-lo à Comunicação social.

Reconheço agora quanto foi esse meu empenhamento feito com um enorme gosto, era uma realização.

Onde está o reconhecimento desse profissionalismo, como estamos a ser tratados, como posso ter vida familiar?

Dulce

Ensinar é um acto criativo e de amor


Nunca se passaram tantas horas na escola e nunca vi tão pouco trabalho produtivo.

Sempre se gastou tempo a organizar a preparar e elaborar projectos. Mas esse tempo era gerido em função das necessidades e objectivos, de uma forma livre.

Os professores precisam dessa margem de liberdade para poderem ensinar, precisam de sentir-se bem no seu trabalho, porque ensinar é um acto criativo e de amor.

Maria Adelina


O que deveriam ser as actividades de enriquecimento curricular?

O seu conteúdo deverá ser, essencialmente, de fruição de enriquecimento cultural


As disciplinares, como as expressões que constam do programa deverão ser asseguradas no quadro lectivo, por professores ou animadores a coadjuvar o professor titular da turma.


Os animadores, como todos os professores – quer do ensino regular quer do ensino especial ou de outras áreas, terapeutas, auxiliares da acção educativa, psicólogos deverão fazer parte dos quadros do Ministério da Educação com um estatuto que lhes garanta a estabilidade como condição necessária para um bom equilíbrio emocional e um bom desempenho no quadro individual ou colectivo.


Deverá haver tempo instituído e remunerados para todos estes elementos, incluindo os animadores culturais, para integrar as equipas pedagógicas. Só assim poderão entrosar as suas propostas de trabalho no projecto curricular de cada turma, no projecto da escola e sobretudo nas pedagogias diferenciadas, tendo em conta os casos especiais.


Não ao exigir aos professores mais do que estas reuniões de trabalho. Não deverão ser responsáveis por super visões, nem por aulas de estudo acompanhado. Para lá das reuniões de equipa, todo o tempo será pouco para organização, avaliação e planeamento das práticas com os seus alunos, bem como a formação.


Tempo para a participação na formação contextualizada, integrando o calendário escolar.


Compreender que a profissão de professor/ educador tem componentes de saberes adquiridos, de rotinas, mas também de procura e de construção – criativa que não poderá ser realizada sem margens de liberdade.


Quadros de constrangimento, de tempos contados à exaustão, de divisão, serão o que de mais nefasto poderá ser feito para conseguir a realização dos professores – sem a qual será muito difícil, ou mesmo impossível, a realização dos alunos.


Maria da Luz Oliveira e Carmelinda Pereira

1 comentário:

Anónimo disse...

Sou professora de AEC - Inglês, desde que o projecto iniciou. Não sou licensiada mas possuo a habilitação própria. Sou bilingue e vivi e estudei alguns anos anos no estrangeiro,o que me possibilitou adquirir não só as competências linguiticas como as culturais e sociais que intrinsecamente estão ligadas à lingua. Terei de dizer que a minha vida não tem sido fácil, mas julgo que vamos no bom camiho, pois sinto que hà uma evolução positiva a cada ano que passa. Gostaria de esclarecer que nas minhas aulas os alunos não estão sujeitos a um método expositivo. Uma sala de aula baseada num método construtivista, faz para mim muito mais sentido. Por isso os jogos, as discussões, os trabalhos de grupo, a troca de ideias, o carinho, as canções e o assessment fazem parte do meu dia à dia de AEC. Eu penso que o bom senso e a sensibilidade de quem partilha conhecimentos terão de imperar perante meios ambientes agressivos do ponto de vista de logistica e de pessoal. Sou uma optimista e acredito que um dia todos verão utilidade nas AEC.